Jesus tem quatro biografias que são chamadas de evangelhos:
o de Mateus, o de
Marcos, o de Lucas e o de João.
Marcos e Lucas não pertenciam ao grupo dos 12 discípulos. Eles escreveram
baseados num processo de investigação de pessoas que conviveram intimamente com
Cristo. Essas não são biografias no sentido clássico, como as que conhecemos
hoje. Porém, como os evangelhos retratam a história de Jesus, podemos dizer que
representam a sua biografia.
Todo cientista é um indagador inveterado, um aventureiro nas
trajetórias do desconhecido e um questionador de tudo que vê e ouve. Investigar
com critério aquilo que se vê e se ouve é respeitar a si mesmo e a sua própria
inteligência. Se alguém não respeita a própria inteligência, não pode respeitar
aquilo em que acredita. Não deveríamos aceitar nada sem realizar uma análise
crítica dos fenômenos que observamos.
Durante muitos anos procurei estudar as biografias de
Cristo. Por diversas vezes me perguntei se ele realmente tinha existido.
Questionava se ele não teria sido uma invenção literária, fruto da imaginação
humana. Esta é uma questão fundamental, e não devemos ter medo de investigá-la.
Antes de estudarmos este ponto, deixem-me falar-lhes um pouco sobre o
ateísmo.
Aqueles que se dizem ateus têm como assuntos preferidos Deus
ou a negação de Sua existência. Todo ser humano – não importa quem seja ateu ou
não – gosta de incluir Deus na pauta das suas mais importantes ideias. A maioria
dos ateus realmente não acredita em Deus?
Não. A maioria dos ateus fundamenta seu ateísmo não em um corpo de ideias
profundas sobre a existência ou não de Deus, mas como resultado da indignação
contra as injustiças, as incoerências e
as discriminações sociopolíticas cometidas pela religiosidade reinante em
determinada época.
Quando todos pensavam que Voltaire, o afiado pensador do
Iluminismo francês, era ateu, ele proclamava no final de sua vida: “Morro adorando a Deus, amando os meus
amigos, não detestando meus inimigos, mas detestando a superstição.” A
maioria dos ateus pratica um ateísmo social, um “socioateísmo” alicerçado na
antirreligiosidade, e não numa produção de conhecimento inteligente,
descontaminada de distorções intelectuais, de paixões e tendenciosidades
psicossociais sobre a existência ou não de Deus.
Provavelmente fui ateu do que muitos daqueles que se
consideravam grandes ateus, como Karl Marx, Friedrich Nietzsche e Jean-Paul
Sartre. Por isso, como já disse, pesquisava a inteligência de Jesus Cristo
indagando continuamente se ele era fruto da imaginação humana, da criatividade
literária, ou se realmente tinha existido. Como pesquisador da inteligência, fui
investigar no campo da minha especialidade, ou seja, no campo da construção dos
pensamentos descritos nas quatro biografias de Jesus. Pesquisei a lógica, os
limites e o alcance de sua inteligência.
Existem mais de cinco mil manuscritos do Novo Testamento, o
que o torna o mais bem-documentado dos escritos antigos. Muitas cópias foram
feitas numa data próxima dos originais. Há aproximadamente 75 fragmentos datados
desde 135 d.C. até o século VIII. Todos esses dados, acrescidos do trabalho
intelectual produzido pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica
textual, nos asseguram que possuímos um texto fidedigno do Novo testamento que
contém as quatro biografias de Cristo, os quatro evangelhos. Os fundamentos
arqueológicos e paleográficos podem ser úteis para nos dar um texto fidedigno,
mas não analisam o próprio texto; logo, são insuficientes para resolver a dúvida
se Jesus foi real ou fruto da criatividade intelectual humana. São restritos
para fornecer dados para uma análise psicológica ampla sobre os pensamentos de
Cristo e sobre as intenções dos autores originais dos evangelhos. Para analisar
esses textos, é necessário imergir no próprio texto e interpretá-lo de forma
multifocal e isenta, tanto quanto possível, de paixões e tendências. Foi o que
procurei fazer.
Penetrei nas quatro biografias de Jesus e procurei pesquisar
até o que estava nas entrelinhas desses textos, tanto os mais diversos níveis de
coerência intelectual neles contidos como as intenções conscientes e
inconscientes dos seus autores. Usei várias versões para isso. Procurei também
pesquisar cada ideia, cada reação, cada momento de silêncio e cada pensamento
que Cristo produziu nas várias situações que viveu, principalmente em seus focos
de tensão. Eu precisava saber se estava analisando a inteligência de uma pessoa
real ou imaginária.
O resultado dessa investigação é muito importante. Minhas
pesquisas poderiam me conduzir a três caminhos: permanecer na dúvida,
convencer-me de Jesus Cristo foi o fruto mais espetacular da imaginação humana,
ou de que realmente ele existiu, de que foi de fato uma pessoa real que andou e
respirou na terra.
Cheguei a uma conclusão que passarei a demonstrar e defender
daqui para frente, como se fosse uma tese.
(Fonte: Análise da Inteligência de Cristo –
Augusto Cury).
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