Quem foi Jesus Cristo? A minha pretensão é
realizar uma análise psicológica da sua inteligência, não pode responder
plenamente a essa pergunta, pois ela entra na esfera da fé, uma esfera que
ultrapassa os limites da investigação científica, que transcende a ciência da
interpretação. A ciência se cala quando a fé se inicia. A fé transcende a
lógica, é uma convicção em que há ausência de dúvida. A ciência sobrevive da
dúvida. Quando maior for a dúvida, maior poderá ser a dimensão da resposta. Sem
a arte da dúvida, a ciência não tem como sobreviver e expandir a sua produção de
conhecimento.
Jesus discorria sobre a fé. Falava da necessidade de crer sem
duvidar, de uma plena, completa, sem insegurança. Falava da fé como um
misterioso processo de interiorização, como uma trajetória de vida clandestina.
Discorria sobre a fé como um viver que transcende o mundo material, extrapola o
sistema sensorial e cria raízes no âmago do espírito
humano.
A ciência não tem como investigar o que é essa fé, pois, como suas
raízes se encontram no cerne da experiência pessoal, ela não se torna um objeto
de estudo investigável. Todavia, apesar de Jesus Cristo falar da fé como um
processo de existência transcendental, ele não anulava a arte de pensar; pelo
contrário, era um excepcional nessa arte. Ele não discorria sobre uma fé sem
inteligência.
Para ele, primeiro deveria se exercer a capacidade de pensar e
refletir antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se estudarmos os quatro
evangelhos e investigarmos a maneira como Jesus reagia e expressava seus
pensamentos, constataremos que pensar com liberdade e consciência era uma
obra-prima para ele.
Um dos maiores problemas enfrentados por Cristo era o cárcere
intelectual em que as pessoas viviam, ou seja, a rigidez intelectual com que
elas pensavam e compreendiam a si mesmas e o mundo que as envolvia. Por isso,
apesar de falar da fé como ausência da dúvida, ele também era um mestre
sofisticado na arte da dúvida. Ele a usava para abrir as janelas da Inteligência
das pessoas que o circundavam (Lucas 5:23; 6:9; 7:42).
Como Jesus usava a arte da dúvida? Se observarmos os textos dos
quatro evangelhos, veremos que ele era um excelente indagador, um ousado
questionador. Usava a arte da pergunta para conduzir as pessoas a se
interiorizarem e a se questionarem. Também era um exímio contador de parábolas
que perturbava os pensamentos de todos os seus
ouvintes.
Quem é Jesus Cristo? Ele é o filho de Deus? Ele tem natureza
divina? Ele é o autor da existência? Como ele se antecipava ao tempo e previa
fatos ainda não acontecidos, tais como a traição de Judas e a negação de Pedro?
Como realizava os atos sobrenaturais que deixavam as pessoas extasiadas? Como
multiplicou alguns pães e peixes e saciou a fome de milhares de pessoas? Ele
multiplicou a matéria, as moléculas, ou usou qualquer outro fenômeno? A ciência
não pode dar essas respostas sobre Cristo nem outras tantas, pois essas
perguntas entram na esfera da fé. Como disse, quando começa a fé, que é íntima e
pessoal de cada ser humano e que, portanto, deve ser respeitada, a ciência se
cala. Jesus continuará sendo, em muitas áreas, um grande enigma para a
ciência.
Não é possível comentar a sua inteligência em alguns capítulos.
Sua arte de pensar é sofisticada demais para ser tratada em apenas um livro.
Ao investigarmos a sua inteligência, talvez possamos responder a
algumas destas importantes perguntas. Cristo sempre expressava com elegância e
coerência a sua inteligência nas várias situações tensas e angustiantes que
vivia? Teria ele dividido a história da humanidade se não tivesse realizado
nenhum ato sobrenatural? Por que suas
palavras permanecem vivas até hoje, mexendo com centenas de milhões de pessoas
de todas as línguas e de todos os níveis sociais, econômicos e culturais? Por
que homens que nunca o viram ou nunca o tocaram – entre eles pensadores,
filósofos e cientistas – disseram espantosamente, ao longo da história, que não
apenas creram nele, mas também o amaram?
Nesse nosso contato realizaremos uma viagem intelectual
interessante ao investigarmos a vida de Cristo. Ao contrário do que se possa
pensar, ele gostava de ser estudado. Ele apreciava ser analisado e indagado com
inteligência. Criticava as pessoas que o investigavam superficialmente.
Em uma oportunidade, chegou até mesmo a convocar escribas e
fariseus a estudarem mais profundamente a identidade e a origem de “Jesus
Cristo” (Mateus 12:35-37)
(Fonte: Análise da Inteligência de Cristo – Augusto
Cury).
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